Esta é uma narrativa sobre o luto e a resiliência dos seres humanos ― além de ser o livro mais pessoal de Han Kang até agora. Durante a estada em uma cidade europeia coberta pela densa neve invernal, a narradora é repentinamente tomada pela lembrança de sua irmã, que morreu recém-nascida nos braços da mãe.
Ela luta com essa tragédia que definiu a vida da família, um evento que reaparece repetidamente em imagens tomadas por esta cor que evoca o luto em algumas culturas orientais: o branco do leite materno e da fralda, o branco do sal e da neve, o branco da magnólia, a pele branca da bebê como um bolinho de arroz em formato de lua.
Só mesmo uma autora como Han Kang, que criou a intrincada e poética narrativa de A vegetariana, seria capaz de urdir uma grande narrativa literária a partir de uma memória tão profundamente pessoal.
É por meio desse léxico que a narradora avança na releitura de sua própria história. Assim, cada capítulo recebe o nome dessas coisas brancas. E rememoram, por meio de uma prosa habilmente arquitetada, aquilo que Camões definiu como “a grande dor das coisas que passaram”. Mas sem arroubos sentimentais. Pois é com a mesma suavidade da neve que ela empreende uma viagem em direção aos sentimentos mais íntimos de uma mulher sobre si mesma.
“A cada palavra que escrevia, estranhamente, meu coração se agitava. Eu queria mesmo escrever este livro e senti que o processo traria alguma mudança. Era algo de que eu precisava, como uma pomada branca para passar num machucado, como uma gaze branca para enfaixá-lo”, escreve. A beleza desse processo, ainda que frequentemente penoso para a narradora, promete tomar de assalto o leitor do início ao fim deste pequeno livro magistral.
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