Esta não é exatamente uma narrativa sobre uma criança abusada. É um estudo íntimo, sensível, violento e sincero. Uma escrita cirúrgica capaz de revelar, a um só tempo, o poder e a impotência da literatura diante do horror.
Dos sete aos catorze anos, Neige Sinno foi estuprada pelo padrasto. Aos dezenove, depois de deixar a casa na qual vivia em condições precárias com a família, ela quebra o pacto de silêncio e conta à mãe sobre os abusos. Ambas denunciam o padrasto pelos crimes cometidos, iniciando um processo judicial que o condena a nove anos de prisão.
A violência que a devastou em um período tão constitutivo de sua vida é elaborada nas páginas de Triste tigre, que traduzem décadas de reflexão profunda até chegar à compreensão fugidia de algo inominável, navegando entre memórias vívidas e turvas, documentos e conversas.
Em seu percurso, Neige apresenta também releituras de Vladimir Nabokov, Virginia Woolf, Toni Morrison, Virginie Despentes e outros autores, e se questiona se é possível, ou mesmo desejável, traçar um retrato da mente do estuprador sem se prender ao ponto de vista de quem sofre o abuso.
A autora traça o mapa de um território compartilhado por vítimas e algozes e explicita as fronteiras da perversidade. Para Neige, embora vítimas e algozes tenham entrem em contato com a escuridão e a maldade, quem sofre a violência não precisa ser condenado a viver eternamente nesse lugar.
A vítima é, sim, capaz de irromper a fronteira da perversidade, ainda que fique marcada por ela para sempre.
E, para tal, é preciso não desistir, não esquecer, não perdoar. É preciso nomear o inominável.
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